quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Natal & Sinais

Avizinha-se novamente o Natal. Uma festa que se celebra em quase todo o lado, mas para muitos, reduz-se a uma época de dar e receber presentes, de tirar uns dias de férias, ou, simplesmente, de passar mais tempo em família. Nós, os que recebemos o dom da fé, conhecemos o verdadeiro significado desta celebração: “Cada Natal deve ser para nós um novo encontro especial com Deus, deixando que a sua luz e a sua graça entrem até ao fundo da nossa alma” [1].

Procuremos então dar pleno sentido aos sinais exteriores destes dias de festividade cristã. E, ponhamos empenho em devolver ao ambiente destas semanas o seu genuíno significado. É sempre possível, por exemplo, difundir os tradicionais costumes de espiritualidade e de fé próprios desta época: ter o presépio em casa; visitar os presépios nas igrejas e noutros locais, talvez na companhia de outros membros da família; sublinhar o significado espiritual da árvore de Natal e dos presentes destas festas, que são uma maneira de lembrar que da árvore da Cruz procedem todos os bens…

Mas o pleno desta alegria natalícia, teve o seu apogeu na pessoa da Santíssima Virgem Maria, e a Igreja põe nos lábios da nossa Mãe umas palavras do profeta Isaías: “Exulto de alegria no Senhor, e a minha alma rejubila no meu Deus: pois com a veste da salvação me revestiu, e com o manto da justiça me envolveu, qual esposa adornada de suas jóias” [2].

Quanto mais perto o homem está de Deus, mais perto está dos homens. Vemos isso realizado também plenamente em Maria, diz o Papa: “O facto de estar totalmente imersa em Deus é a razão por que está também tão perto dos homens. Por isso pode ser a Mãe de todo o consolo e de toda a ajuda, uma Mãe a que todos, em qualquer necessidade, podem ousar dirigir-se, na sua debilidade e no seu pecado, porque ela compreende tudo e é para todos a força aberta da bondade criadora” [3].

Façamos nossa a lição de Maria. O Senhor deu o mundo por herança aos cristãos [4], e estamos certos de que a sua palavra se cumprirá, com a nossa colaboração, porque Ele quis, na sua bondade, contar com cada um de nós. Por isso, “é preciso sermos optimistas, mas com um optimismo que nasce da fé no poder de Deus, com um optimismo que não proceda da satisfação humana, de uma complacência néscia e presunçosa” [5].

Com amizade, desejo-vos um santo e feliz Natal,
Pasadas Pimenta
[1] S. Josemaria, Cristo que passa, n. 12.
[2] Missal Romano, Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, Antífona de entrada (Is 61,10).
[3] Bento XVI, Homilia na Solenidade da Imaculada Conceição, 8-XII-2005.
[4] Cfr. Sl 2, 8.
[5] S. Josemaria, Cristo que passa, n. 123.

Imagem: GOTHIC GLASS PAINTER, Swiss - Adoration of the Magi (detail)

Nota final: O texto Natal e Sinais, resulta dum resumo e adaptação da mensagem de Dezembro de 2009 de D. Javier Echevarría. E o Tejo & Teologia regressará em 5 de Janeiro de 2011.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Tempo & Luz

Estes tempos natalícios de festa e alegria tocam e iluminam os corações dos homens e difundem por toda a terra o dom da paz. E, em muitos lugares, numa tentativa de plasmar esta realidade, aparecem brilhando pequenas e grandes, desta ou daquela maneira, as luzes que obrigatoriamente têm que aparecer porque, senão, falta alguma coisa a este tempo do Natal. Mas, o mais importante é que a luz que se exterioriza nas grandes e majestosas iluminações de rua até à pequena e simples árvore de natal que se encontra lá em casa, não fique apenas fechada nesses sítios e saia e entre no coração de cada um operando as mudanças necessárias de vida.

Por isso, vou falar hoje de duas virtudes que se podem entender como duas luzes e que são e serão em todos os lugares as mais belas iluminações se forem praticadas. E, se sempre foram importantes na vida do homem, mais ainda o serão nestes tempos hodiernos. Contudo, a sua eficácia dependerá se estas duas virtudes permanecerem unidas como dois metais preciosos que se fundem, aumentando a solidez e o esplendor do novo material que surge. E, então, por elas se encontrará a tão desejada paz de alma prometida por Jesus: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração e encontrareis paz para o vosso espírito.” (Mt 11, 29).

As virtudes de que falo são a Humildade e a Mansidão. No livro Ascética Meditada, de Salvatore Canals, elas são definidas de uma forma simples e maravilhosa: “Com a humildade ganhamos o coração de Deus; com a mansidão, atraímos os nossos irmãos e conquistamos os seus corações”.

Por isso, para se ganhar a paz de vida é preciso que, em todas as nossas relações e encontros, resplandença a mansidão e a humildade, porque só assim os nossos corações assemelhar-se-á ao coração de Cristo. Então, através da nossa mansidão, todos os nossos familiares, irmãos e amigos, devem-se tornar felizes e alegres, para que eficazmente todos aqueles que amamos, sejam santos. A humildade, conforme ensinam os santos, consiste na verdade, na verdade de vida, que só se atinge mergulhando no conhecimento íntimo e sincero de nós mesmos. E isso opera-se de duas formas: A primeira, não ter uma preocupação excessiva pela estima própria e a segunda, não se deixar levar pelo desejo inquieto da estima recebida dos outros.

E, abandonados ao olhar maternal de Maria, encontramos também a paz que, muitas vezes não alcançamos e está prometida aos humildes. Que a sua humildade nos sirva de consolo e modelo.

Pasadas Pimenta
Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Tempo & Beleza

O Homem, ao longo do tempo e impelido pelo mal, tende a não favorecer as reais manifestações da arte e da beleza. De facto, para se conseguir tais elevações, necessário se torna contrariar, primeiramente, a actual tendência cultural e humana, para depois criar a devida disposição interior para que, levantando os seus olhos para o alto, veja e perceba que o Belo é somente Deus e é Ele a fonte de todo o belo. Santo Agostinho confessa tristemente: “Tempos houve da minha adolescência em que ardi em desejos de me fartar dos prazeres mais baixos, e ousei a bestialidade de vários e sombrios amores, e desfloresceu a minha beleza, e transformei-me em podridão diante de Teus olhos, para agradar a mim mesmo e desejar agradar aos olhos dos homens.” (Confissões, Livro II, I).

O papa Bento XVI, na sua recente viagem a Espanha para a dedicação da Basílica Menor da Sagrada Família em Barcelona, retoma este assunto e diz, admiravelmente, que “a beleza é a grande necessidade do homem”, ela "é também reveladora de Deus, porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convida à liberdade e arranca do egoísmo" este homem que tende para o feio, para o mal, “é que não é o bem que eu quero que faço, mas o mal que eu não quero, isso é que pratico.” (Rom 7,19).

Gaudí, ao construir a Basílica da Sagrada Família, diz o papa, realizou uma das tarefas mais importantes: “Superar a cisão entre consciência humana e consciência cristã; entre existência neste mundo temporal e abertura a uma vida eterna; entre beleza das coisas e Deus como Beleza (…) numa época na qual o homem pretende construir a sua vida de costas para Deus”. O homem, desde sempre mas ainda mais contemporaneamente, é como aquele filho mais novo que virou as suas costas ao pai pensando que não mais precisaria dele. E disse-lhe: "«Pai, dá-me a parte dos bens que me corresponde.» E o pai repartiu os bens (…). Poucos dias depois, o filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma terra longínqua." (Lc 15,11-13).

Deus é e deve ser a verdadeira medida do homem, o verdadeiro bem e a verdadeira beleza mas é necessário que o homem tome consciência daquilo que possui, isto é, dos recursos de entusiasmo, de coragem e de amor que existem no seu coração, para que as suas mãos trabalhem em favor desta missão. E concluo com Santo Agostinho: “Assim, pois, meu Senhor e meu Deus, Tu que me deste a vida e o corpo, o qual dotaste, como vemos, de sentidos e o proveste de membros, adornando-o de beleza e de instintos naturais, com os quais pudesse defender sua integridade e conservação, Tu me mandas que Te louve por esses dons e Te confesse e cante teu nome altíssimo. Serias Deus omnipotente e bom ainda que só tivesses criado apenas estas coisas, que nenhum outro pode fazer senão Tu, ó Unidade, origem de todas as variedades, ó Beleza, que dás forma a todas as coisas, e com Tua lei as ordenas!” (Confissões, Livro I, VII).

Pasadas Pimenta
Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam

MINIATURIST, Frankish - Frankish Psalter.